domingo, 26 de fevereiro de 2012

O poder da publicidade inclusiva

















Em pouco mais de 24 horas, Ryan e Noah viraram pop stars. E a Target, grande cadeia de lojas de artigos populares, se tornou a heroína das pessoas com deficiência. Isso sem fazer nada além do que vem fazendo, sem alarde, desde a década de 80 – refletir a diversidade dos consumidores em sua publicidade.


Dessa vez, a iniciativa da Target, infelizmente ainda muito pouco seguida no mundo da propaganda, foi repercutida como nunca antes, graças ao poder da internet. Ao ver uma propaganda em que um menino fofo de uns 6 anos, com síndrome de Down, aparece junto a outras crianças anunciando camisetas, Rick Smith, pai de Noah, que também tem síndrome de Down, postou seus sentimentos em seu blog, Noah’s Dad (o Pai de Noah):


"Se você viu o anúncio da Target desta semana você pode não ter notado um menino adorável com camisa laranja brilhante sorrindo na página 9! E se foi assim, isso me faz feliz! A razão da minha felicidade? Bem, o jovem elegante de camisa laranja é Ryan. Por acaso Ryan nasceu com síndrome de Down, e eu estou contente que a Target tenha incluído um modelo com síndrome de Down no anúncio!: Não era um catálogo de “roupa especial para crianças especiais”. Não havia uma chamada em nenhum lugar da página proclamando orgulhosamente que “a Target tem o orgulho de apresentar um modelo com síndrome de Down no anúncio desta semana!” E eles não pediram que o Ryan vestisse uma camisa com a frase: "Nós não somos todos anjos", impressa na frente. Em outras palavras, eles não fizeram um estardalhaço. E eu gostei disso".



















5 coisas que a Target disse sem dizer nada.
Apesar da Target não ter dito nada ao usar um menino com síndrome de Down como modelo em seu anúncio, eles disseram muitas coisas . Eles disseram as mesmas coisas que a Nordstrom (outra cadeia de lojas de roupa) quando usou Ryan como modelo em seu catálogo no verão passado. Eu poderia enumerar uma centena de coisas ditas pela Target quando produziu este anúncio, mas vou falar as 5 que imediatamente vêm à mente:


1. Eles disseram que as pessoas que nascem com síndrome de Down merecem ser tratadas da mesma forma que qualquer outra pessoa neste planeta.
2. Eles disseram que é hora das organizações intencionalmente buscarem maneiras criativas para ajudar a promover a inclusão, não a exclusão. (Não é por acaso que a Target usou um modelo com síndrome de Down neste anúncio. Foi uma decisão intencional. Se queremos que o mundo seja um lugar onde todos são tratados iguais, não podemos simplesmente sentar e assistir o tempo passando. Temos que agir intencionalmente. Temos que fazer alguma coisa.)
3. Eles disseram que as empresas não têm que chamar a atenção para o fato de serem inclusivas, para que as pessoas percebam o seu apoio às pessoas com deficiência. Na verdade, não fazendo alarde disso, eles estão fazendo um trabalho melhor ao mostrar o seu apoio para à comunidade de pessoas com deficiência.
4. Eles disseram que é importante para o mundo ver pessoas que nascem com deficiência com outros olhos. Que é hora de deixarmos para trás todos os estereótipos incorretos do passado e seguir em frente abraçando o futuro com imagens de pessoas verdadeiras.
5. Eles disseram que você não precisa gastar muito para os seus filhos terem boa aparência! (Quero dizer, poxa, vamos lá, essa camisa custa só cinco dólares!)
















A sinceridade e o bom humor do texto de Rick fez sentido para uma enorme quantidade de pessoas, dentro e fora da comunidade de pessoas com deficiência. O post se tornou viral. Recebeu mais de 200 comentários no Blog, foi curtido 18 mil vezes no Facebook e Tweetado mais de 3 mil vezes. O sucesso do assunto atraiu a grande mídia. Mais de 20 órgãos da imprensa repercutiram a notícia, entre elas a ABC, e o britânico Daily Mail. No Brasil, o site UOL também traduziu e publicou o conteúdo.


Rick ficou feliz com o sucesso da história e está aproveitando a atenção para divulgar o Blog em que mostra diariamente vídeos de 1 minuto de seu filho Noah. Os vídeos já foram vistos nos quatro continentes. Em vários deles, Noah aparece fazendo sessões de estimulação precoce. Há pais que escrevem contando que, como não há serviços de terapia ocupacional ou fonoaudiologia onde moram, os vídeos servem para aprenderem a estimular seus filhos em casa.


Outro objetivo, diz Rick , é encorajar famílias a receberem crianças com síndrome de Down com naturalidade em suas vidas, especialmente casais que descobrem que o bebê que esperam tem a síndrome. Com a taxa de aborto nos Estados Unidos em caso de resultado positivo a mais de 90% , e a expectativa desse número aumentar ainda mais com a chegada de exames menos invasivos para detecção de síndrome de Down na gravidez, o pai de Noah espera convencer aqueles que entram na internet à procura de informação quando recebem um diagnóstico de síndrome de Down. "Eu não faço piquete na porta de clínicas de aborto. Sou mais criativo. Eu acredito na força de uma boa história. E convido as pessoas a conhecerem a nossa", conclui.


E com esse anúncio a Target vai conseguir muito mais do que aumentar a venda de suas camisetas.


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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Formas criativas para estimular a mente de alunos com deficiência


O professor deve entender as dificuldades dos estudantes com limitações de raciocínio e desenvolver formas criativas para auxiliá-los
















De todas as experiências que surgem no caminho de quem trabalha com a inclusão, receber um aluno com deficiência intelectual parece a mais complexa. Para o surdo, os primeiros passos são dados com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos têm o braile como ferramenta básica e, para os estudantes com limitações físicas, adaptações no ambiente e nos materiais costumam resolver os entraves do dia-a-dia. 


Mas por onde começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se prender a relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das regulares precisam entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir o que interessa: quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles, para ensinar. 


No geral, especialistas na área sabem que existem características comuns a todo esse público (leia a definição no quadro desta página). São três as principais dificuldades enfrentadas por eles: falta de concentração, entraves na comunicação e na interação e menor capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas, por não compreender a representação escrita ou necessitar de um sistema de aprendizado diferente. "Há crianças que reproduzem qualquer palavra escrita no quadro, mas não conseguem escrever sozinhas por não associar que aquelas letras representem o que ela diz", comenta Anna Augusta Sampaio de Oliveira, professora do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). As características de todas as outras deficiências você pode ver no especial Inclusão, de NOVA ESCOLA (leia o último quadro). 


A importância do foco nas explicações em sala de aula 
















Alunos com dificuldade de concentração precisam de espaço organizado, rotina, atividades lógicas e regras. Como a sala de aula tem muitos elementos - colegas, professor, quadro-negro, livros e materiais -, focar o raciocínio fica ainda mais difícil. Por isso, é ideal que as aulas tenham um início prático e instrumentalizado. "Não adianta insistir em falar a mesma coisa várias vezes. Não se trata de reforço. Ele precisa desenvolver a habilidade de prestar atenção com estratégias diferenciadas para, depois, entender o conteúdo", diz Maria Tereza Eglér Mantoan, doutora e docente em Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 


O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que representem o quadrado, o retângulo e o círculo. 


A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a complexidade. "A própria sequência de exercícios parecidos e agradáveis já vai ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar", comenta Maria Tereza, da Unicamp. 


O que é a deficiência intelectual?


É a limitação em pelo menos duas das seguintes habilidades: comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. O termo substituiu "deficiência mental" em 2004, por recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU), para evitar confusões com "doença mental", que é um estado patológico de pessoas que têm o intelecto igual da média, mas que, por algum problema, acabam temporariamente sem usá-lo em sua capacidade plena. As causas variam e são complexas, englobando fatores genéticos, como a síndrome de Down, e ambientais, como os decorrentes de infecções e uso de drogas na gravidez, dificuldades no parto, prematuridade, meningite e traumas cranianos. Os Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGDs), como o autismo, também costumam causar limitações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial tem alguma deficiência intelectual.


Foi o que fez a professora Marina Fazio Simão, da EMEF Professor Henrique Pegado, na capital paulista, para conseguir a atenção de Moisés de Oliveira, aluno com síndrome de Down da 3ª série. "Ele não ficava parado, assistindo à aula", lembra ela. Este ano, em um projeto sobre fábulas, os avanços começaram a aparecer. "Nós lemos para a sala e os alunos recontam a história de maneiras diferentes. No caso dele, o primeiro passo foram os desenhos. Depois, escrevi com ele o nome dos personagens e palavras-chave", relata ela. 


Escrita significativa e muito bem ilustrada 


















A falta de compreensão da função da escrita como representação da linguagem é outra característica comum em quem tem deficiência intelectual. Essa imaturidade do sistema neurológico pede estratégias que servem para a criança desenvolver a capacidade de relacionar o falado com o escrito. Para ajudar, o professor deve enaltecer o uso social da língua e usar ilustrações e fichas de leitura. O objetivo delas é acostumar o estudante a relacionar imagens com textos. A elaboração de relatórios sobre o que está sendo feito também ajuda nas etapas avançadas da alfabetização. 


A professora Andréia Cristina Motta Nascimento é titular da sala de recursos da EM Padre Anchieta, em Curitiba, onde atende estudantes com deficiência intelectual. Este ano, desenvolve com eles um projeto baseado na autoidentificação - forma encontrada para tornar o aprendizado mais significativo. A primeira medida foi pedir que trouxessem fotos, certidão de nascimento, registro de identidade e tudo que poderia dizer quem eram. "O material vai compor um livro sobre a vida de cada um e, enquanto se empolgam com esse objetivo, eu alcanço o meu, que é ensiná-los a escrever", argumenta a educadora. 


Quem não se comunica... pode precisar de interação 


Outra característica da deficiência intelectual que pode comprometer o aprendizado é a dificuldade de comunicação. A inclusão de músicas, brincadeiras orais, leituras com entonação apropriada, poemas e parlendas ajuda a desenvolver a oralidade. "Parcerias com fonoaudiólogos devem ser sempre buscadas, mas a sala de aula contribui bastante porque, além de verbalizar, eles se motivam ao ver os colegas tentando o mesmo", explica Anna, da Unesp. 


Essa limitação, muitas vezes, camufla a verdadeira causa do problema: a falta de interação. Nos alunos com autismo, por exemplo, a comunicação é rara por falta de interação. É o convívio com os colegas que trará o desenvolvimento do estudante. Para integrá-lo, as dicas são dar o espaço de que ele precisa mantendo sempre um canal aberto para que busque o educador e os colegas. 


Para a professora Sumaia Ferreira, da EM José de Calazans, em Belo Horizonte, esse canal com Vinicius Sander, aluno com autismo do 2º ano do Ensino Fundamental, foi feito pela música. O garoto falava poucas palavras e não se aproximava dos demais. Sumaia percebeu que o menino insistia em brincar com as capas de DVDs da sala e com um toca-CD, colocando músicas aleatoriamente. Aos poucos, viu que poderia unir o útil ao agradável, já que essas atividades aproximavam o menino voluntariamente. Como ele passou a se mostrar satisfeito quando os colegas aceitavam bem a música que escolheu, ela flexibilizou o uso do aparelho e passou a incluir músicas relacionadas ao conteúdo. "Vi que ele tem uma memória muito boa e o vocabulário dele cresceu bastante. Por meio dos sons, enturmamos o Vinicius."


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Pessoas com Síndrome de Down em cenas baseadas em textos bíblicos










O trabalho do fotógrafo russo Raoef Mamedov caracteriza pessoas com síndrome de Down em cenas baseadas em textos bíblicos. Mamedov retratou Jesus e seus 12 discípulos com síndrome de down numa versão moderna da pintura de Leonardo da Vinci “A Última Ceia”. Este projeto combina teatro, cinema, fotografia, história da arte, teologia e informática em doze fotografias de 80 por 60 cm (7 cópias assinadas), representando sete cenas bíblicas do Novo Testamento, que foram “aprovadas” por pessoas com síndrome de Down.
O projeto inclui cenas que descrevem a Anunciação, Natividade, Epifania, Vigília no Jardim Getsêmani, a traição de Judas e a famosa ” Última Ceia”. Obras de arte renascentistas, mas altamente original no trabalho de  Mamedov. As mãos das pessoas com síndrome de Down são particularmente expressivas.

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