quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Síndrome de Down e tendência a sobrepeso: veja qual é a alimentação adequada!


síndrome de down e obesidade


Vivemos hoje uma "epidemia" de obesidade. Em grande parte dos países – incluindo o Brasil – verificando-se um pool de indivíduos obesos, que trazem consigo um aumento das taxas de doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas. Na síndrome de Down há uma tendência ao sobrepeso e obesidade, conferida tanto pela taxa de metabolismo basal mais lenta, como pelo hipotireoidismo, que aumenta sua frequência conforme a criança vai crescendo.


Sendo assim, é interessante toda a família manter hábitos alimentares saudáveis, pois o cardápio ideal para a criança Down é na verdade bem variado, leve e satisfaz as necessidades de toda a família. Não adianta restringir refrigerantes e doces se a criança cresce vendo os pais e irmãos consumirem tais alimentos com frequência. Aproveitando o primeiro aninho da criança para reeducar toda a família, não haverá dificuldades nutricionais nos anos seguintes.
Os pediatras possuem curvas de peso e estatura específicas para meninos e meninas Down, que servem de base para o seguimento do peso, parâmetro mais importante do ponto de vista de prevenção de morbidades do que a estatura. Não é necessário um cálculo restrito de quantidades de calorias a serem ingeridas por dia ou dietas espartanas, mas toda criança deve ter uma puericultura regular, para que os acréscimos na velocidade de ganho de peso sejam precocemente identificados e as alterações na dieta sejam feitas. Assim, a criança não precisa ficar passando por "regimes", e sim se adaptar paulatinamente às suas reais necessidades calóricas, conforme seu metabolismo e grau de atividade.
Além da obesidade, outros desafios são a constipação (prisão de ventre), o refluxo gastroesofágico, a doença celíaca (má absorção do glúten), o diabetes e as intolerâncias alimentares. A constipação e o refluxo ocorrem pela hipotonia da musculatura digestiva; a doença celíaca e o diabetes parecem se correlacionar com autoimunidade, bem como as intolerâncias alimentares. Algumas crianças portadoras de doença de base podem ter necessidades nutricionais diferenciadas, como as portadoras de cardiopatias, predispostas à desnutrição.
Como o assunto é muito extenso, vamos discutir um pouco sobre uma dieta adequada para a família Down, que vise prevenir os problemas nutricionais mais importantes, pois as adequações específicas para cada criança ficam a critério do pediatra, gastroenterologista ou endocrinologista, conforme o caso.

ALIMENTAÇÃO ADEQUADA
Nos primeiros 6 meses de vida, a dieta do nenê é basicamente láctea, sendo o leite materno o alimento mais completo e adequado. Lembro da importância do banho de sol, que converte a vitamina D em forma ativa, que por sua vez age incorporando o cálcio à matriz dos dentes e aos ossos. Sempre que possível, o aleitamento materno exclusivo deve ser mantido até os 6 meses e, após a introdução dos outros alimentos, ser mantido por até 2 anos de idade, conforme a aceitação da criança, a conveniência da mãe ou a disponibilidade do leite materno. Os chás devem ser evitados, pois, além de serem desnecessários, provocam anemia e desencadeiam refluxo. Até os 6 meses de vida, desaconselhamos o uso de água mineral, pois seus minerais podem provocar danos ao rim.
Entre os 6 meses e os 12 meses, devemos acrescentar frutas, verduras e proteína animal de maneira gradual, escolhendo alimentos da nossa região e da época, introduzindo-os aos poucos e dando preferência aos alimentos integrais e de produção orgânica, facilmente encontrados nas grandes redes de supermercados. O excesso de fibra pode reduzir a absorção de alguns nutrientes (como as vitaminas A e D), e isso deve ser levado em consideração quando a constipação é mais importante. As crianças com SD têm uma dificuldade de converter a pró-vitamina A contida nos alimentos (mamão, abóbora, cenoura) em vitamina A ativa, provocando deposição da pró-vitamina na pele, dando uma coloração amarelada facilmente observada nas palminhas, nos pés e em volta do nariz. Essa pigmentação é chamada de hipercarotenemia e, quando ocorre, limitamos os tubérculos citados e o mamão. Quando o bebê não está mais recebendo leite materno, optamos por fórmulas lácteas modificadas, pois são enriquecidas com ferro, vitaminas e ácido fólico. A vitamina D contida no leite materno é fundamental para os ossos e dentes, mas só fica na sua forma ativa quando a criança se expõe ao sol. Na impossibilidade da criança tomar o banho de sol (inverno, internamento, etc.), a vitamina D deve ser suplementada. Falando em suplementação, na SD há uma necessidade aumentada de ácido fólico e, conforme a dieta da criança e seus exames de sangue (anemia), esse elemento deve ser suplementado. Outras necessidades, como ferro oral, vitaminas E ou C, cálcio ou complexo B, seguem conforme as necessidades da população geral. É conveniente ressaltar que crianças que consomem leites modificados já recebem um bom aporte de vitaminas, e as vitaminas em excesso dão sintomas piores que sua carência.
O suco de frutas deve ser concentrado e sem açúcar. As frutinhas devem ser amassadas no garfo ou raspadinhas, e oferecidas aos poucos e com cuidado, depois dos 6 meses. Papinhas são ofertadas conforme o tônus do nenê, e isso varia de nenê para nenê.
A primeira papinha salgada pode ser liquidificada, mas aos poucos prefere-se amassar a parte sólida da sopa com o garfo, até que a criança vá coordenando mastigação-deglutição. A cada mês a papinha fica mais grossa, até conseguir passar a ofertar comidinha. A segunda refeição salgada do dia deve começar a entrar no cardápio quando a criança já aceita o volume esperado na hora do almoço. Adequar a dieta de um lactente exige paciência e muito carinho. Nessa idade é feita a base e, se uma recusa alimentar é seguida da pronta oferta de uma mamadeira, dificilmente conseguimos que a criança se alimente bem no futuro. Evitar o hábito do consumo de doce e do excesso de mamadeiras que tanto contribuem para a obesidade dá trabalho, mas vale a pena.
O glúten, contido nos preparados para mingaus, nos biscoitos e macarrão, por exemplo, só deve ser introduzido depois dos 7 meses. A clara de ovos e o iogurte devem ser introduzidos só após os 12 meses de vida. A clara de ovos provoca muita alergia e sequestra ferro; o iogurte, apesar de rico nutricionalmente, contém muito açúcar e provoca infecções intestinais, por ser um alimento extremamente perecível (não é raro vermos iogurtes fora da refrigeração abandonados por compradores em supermercados, e que evidentemente voltam aos refrigeradores algum tempo depois). Até 1 aninho de idade, todos os utensílios do nenê devem ser fervidos.
O nabo e a folha verde de mostarda interferem no metabolismo da tireoide, devendo ser evitados. Ainda bem que é só isso – quem precisa de nabo ou de mostarda? Por isso que não falo em restrição alimentar na síndrome de Down, mas em adequação, em reeducação. Muitas crianças da população geral têm hipercarotenemia, tantas outras são diabéticas ou possuem constipação crônica e tantas outras são alérgicas ao leite ou intolerantes ao glúten, o que nos faz mostrar que a dieta melhor para a criança Down é a melhor para todo mundo, pois é rica em fibra, pobre em açúcar refinado e gordura, variada e muito saudável. Restrições são prescritas caso a criança tenha um problema nutricional particular, seja ela Down ou não.

ALIMENTOS QUE DESENCADEIAM REFLUXO GASTROESOFÁGICO
Alimentos que contêm xantinas, tais como café, chocolate, refrigerantes tipo cola e chás; alimentos muito gordurosos (relaxam mais a musculatura do esfíncter que fica entre o esôfago e o estômago); leite: nos casos de alergia ao leite, o refluxo pode ser secundário à alergia, quadro relativamente comum.

ALIMENTOS CONTRAINDICADOS NA DOENÇA CELÍACA (e que devem ser evitados antes dos 7 meses de vida)
Cereais ou massas para mingaus, aveia, trigo - pães, macarrão, biscoitos
Cevada e centeio

ALIMENTOS QUE PODEM PIORAR A CONSTIPAÇÃO
Algumas frutas: goiaba, caju, banana, maçã
Alguns tubérculos: batata, cenoura
Leite
Farináceos


Fernanda S. de Azevedo Gomes é Educadora Especial, Graduada em Pedagogia/Educação Especial e Pós-graduada em Inclusão Escolar.

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